Uma faca afiada.
Um pedaço de arame velho mas limpo aquecido e já vermelho cor de brasa.
Um gomo selecionado de uma touceira madura de bambu; um pedaço de madeira macia lapidada para conseguir a melhor embocadura.
Além desses artefatos, uma inesgotável dose de paciência, inteligência e sabedoria aliada à sensibilidade do ouvido musical.

Como resultado, um instrumento de som doce, melodioso e de delicadeza angelical: uma flauta doce.
O instrumento mais antigo da história da humanidade nascia por incontáveis vezes das mãos do escultor, músico, artista. Depois de pronto, na aparência e formato era preciso preciosos segundos para testar, afinando sem diapasão.
Pronto e aprovado o instrumento me entregava com as suas duas mãos e pedindo para tocar como quem precisasse das minhas habilidades inatas e infantis a prova de que terminara sua obra prima.
Uma flauta doce.
Eventualmente acompanhada por uma gaita, harmônica e o coral da família entoava cantos sacros, raramente profanos ao estilo Lindelani com Ladysmith Black Mambazo.
Coro ao estilo Harlen Gospel Choir e Woeto Gospel Choir, Ray Charles ou Elvis Presley com John Newtons Gospel Song interpretando Amazing Grace. Grupos com vozes contralto de encantar.
Antiguidade e simplicidade são adjetivos que dá as qualidades daquilo que é antigo e simples; simples raciocínio dos mais primitivos assim. Ambos utilizam-se de meios de transformação primitivos da sociedade.
Crianças e jovens, adultos do amanhã não tão distante, carentes ou não, precisam apenas ter acesso ao simples mesmo sendo antigo para serem transformadas.
Em sua trajetória, a flauta doce tem contribuído para transformações sociais e culturais de comunidades carentes. Impressionante é o quanto grupos envolvidos em projetos sociais influenciam seus membros e as populações ao seu redor.
Pessoas encontram na simplicidade do instrumento a ferramenta que falta ao ensinamento da arte e da ciência.
Muitas, como este que escreve este texto teve a flauta doce como o primeiro e único instrumento musical disponível em sua formação cultural.
E há de haver separação entre o ato de oferecer oportunidades a jovens carentes e a manipulação politica de suas necessidades. Projetos dessa natureza são importantes para as comunidades carentes porque são sementes jogadas em solo fértil das oportunidades.